segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O verbo haver como impessoal no sentido de existir

Geralmente em uma oração há dois termos principais, o sujeito e o predicado, sendo que este carrega o verbo que expressa a ação e aquele, a pessoa que comete essa ação. Mas há ocorrências de orações sem sujeito, que não apresentam nem mesmo sujeito oculto ou indeterminado. Nesses casos não é primordial atribuir a ação contida no predicado a alguém. O mais importante é o acontecimento em si.

Os verbos que regem essas orações são chamados verbos impessoais. O verbo haver, no sentido de existir (Há traças nas suas roupas) e nas indicações de tempo (Há dois meses não caminha sob o sol), está entre eles. Como os verbos impessoais não têm sujeito, apresentam variação apenas de tempo, e não de pessoa, e assumem sempre a forma de terceira pessoa do singular. Por isso, é um equívoco concordar verbos impessoais com os termos que os seguem. Vejamos:

Houve animais nesta casa e não Houveram animais nesta casa.

No exemplo dado, pode-se perceber que “animais nesta casa” é o complemento do verbo haver, e não o seu sujeito, já que não praticou ação alguma. Portanto, não há motivos para flexionar o verbo. É sempre bom lembrar que verbos impessoais não têm sujeito e por isso não apresentam flexão de pessoa (o que, como as palavras já dizem, os tornaria verbos pessoais).

Seguindo essa mesma lógica, verbos que unidos ao verbo haver tenham função de auxiliar também ficam no singular. Assim: Pode haver lutas e não Podem haver lutas.

Mas atenção, embora o verbo haver como impessoal possa ter o sentido de existir, se substituirmos um pelo outro na oração, deverá ser empregada a flexão de pessoa para o verbo existir, já que este não assume função de verbo impessoal. Assim: Existem traças na sua roupa. Nesse caso, “traças na sua roupa” assume a função de sujeito do verbo existir e há concordância entre eles.

Há ainda uma particularidade na relação entre os verbos haver e ter com o sentido de existir. Muitas vezes, vemos o uso do verbo ter em lugar de haver, como Tem duas meias no seu pé. De acordo com a gramática tradicional, esta forma é incorreta, pois o verbo ter carrega o significado de posse e não deveria assumir a função de existir, muito menos tornar-se impessoal. Mas, como essa substituição já está se tornando consagrada pelo uso, muitos escritores a empregam. Por isso, é importante lembrar que, no caso de admitir o uso de ter nesses termos, é preciso manter a mesma regra usada com o verbo haver. Assim: Tem duas meias no seu pé e não Têm duas meias no seu pé.

O verbo haver não é único a assumir a característica impessoal, tampouco essa é sua única forma, mas isto pode ser assunto para outra dica... Por enquanto, espero ter esclarecido a função de haver como existir.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Lições de Português pela Análise Sintática, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário Prático de Regência Verbal, Celso Luft, ed. Ática; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

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