sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Onde, aonde ou nenhum dos dois?

Muita gente tem esta dúvida: quando usar onde e quando usar aonde? Para começar a esclarecê-la, vamos à definição destas palavras no dicionário.

Onde: advérbio que significa em que lugar, em qual lugar.
Aonde: advérbio que significa para onde; para que lugar ou para o lugar que; a que lugar, ao qual lugar.
(Adapatado de: dicionários eletrônicos Aulete Digital e Houaiss)

A diferença é sutil, mas importante. Podemos perceber que o significado de onde é regido pela preposição em, e o significado de aonde, pela perposição para. É esse detalhe que faz com que o uso desses advérbios seja destinado a casos diferentes.

Costuma-se dizer que se usa aonde com verbos de movimento. Mas o que isso quer dizer? Os verbos chamados assim são aqueles que dão ideia de locomoção, de mudança de direção, como ir e chegar. São verbos transitivos indiretos que exigem as preposiçoes para ou a, pois, como ouvimos desde os tempos da escola, "quem vai,vai a algum lugar" e "quem chega, chega a algum lugar". Assim, aonde nada mais é do que a contração da preposição a com o advérbio onde. Por isso, dizemos: "Eu sei aonde você foi ontem à noite"e "Cheguei aonde sempre quis!".

O advérbio onde indica permanência e é usado para indicar o lugar de alguém ou de alguma coisa, de maneira estática. Por isso, dizemos: "Onde você colocou minha camiseta?" e "Não sei dizer onde ela está".

Assim, para sabermos qual dos advérbios usar, basta estar atento à regência do verbo que ele modifica. Se for regido pelas preposições a ou para, usamos aonde, se não, usamos onde. Mas atenção, quando já houver uma perposição na oração, usamos sempre onde, mesmo que o verbo indique movimento. Por isso dizemos: "Você vai aonde é convidada" e "Você vai para onde é convidada".

No português contemporâneo, a palavra onde tem sido usada também como pronome relativo, e podemos ver frases como "Escrevi uma carta onde reivindicava meus direitos". Originalmente, onde tem função adverbial e, portanto, seu uso não cabe na frase citada, já que não está ligado ao verbo "escrever", mas ao substantivo "carta". Nestes casos, devemos substituí-lo por em que, na qual ou no qual. E a frase ficaria "Escrevi uma carta na qual reivindicava meus direitos".

(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Dicionário eletrônico Aulete Digital; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Locuções que confundem

A definição de locução que nos interessa para esta Dica da Semana e que está no dicionário é a seguinte: “Conjunto de palavras que equivalem a um só vocábulo, por terem significado conjunto próprio e função gramatical única”.
Portanto, as locuções são a união de duas ou mais palavras que dão origem a uma expressão com sentido próprio. Além disso, as locuções podem ser de natureza adjetiva, adverbial, conjuntiva, interjeitiva, prepositiva, substantiva e verbal.
Hoje trataremos de algumas locuções que costumam confundir no dia a dia.


Haja vista, hajam vista, haja visto ou haja em vista?

“Haja vista” tem o sentido de "leve-se em conta", "considere-se", e não varia, mesmo quando seguida de outras expressões no plural. Assim sendo, “hajam vista” e “haja visto” são consideradas incorretas. No entanto, a expressão “haja em vista” é também usada com o sentido de “haja vista”. Vejamos alguns exemplos.

Haja vista o temporal, não deveremos ter treino.
A família deve se mudar logo, haja vista que as reformas na casa acabaram.
Ele é inocente, haja em vista a argumentação do advogado.

Ao invés de X Em vez de

A expressão “ao invés de” significa "ao contrário de", "ao revés de". Portanto, não deve ser confundida com a construção “em vez de”, cujo significado é "em lugar de" e não dá a ideia de uma coisa contrária à outra, de oposição, como a primeira. Porém, “em vez de” pode ser usada no lugar de “ao invés de” sem comprometer o sentido.
Exemplos:
Ao invés de entrar, saiu. / Em vez de entrar, saiu.
Os preços aumentaram, ao invés de baixar. / Os preços aumentaram, em vez de baixar.
Era um chefe piedoso ao invés de cruel. / Era um chefe piedoso em vez de cruel.
Em vez de carne, comprou ovos. (Carne não é o contrário de ovo, portanto “em vez de” não cabe aqui.)
Resolveu ligar para Ana, em vez de ligar para Pedro. (Ana não é o contrário de Pedro, por isso o “em vez”.)
Paguei R$ 150 pelo ingresso, em vez de R$ 100. (R$ 150 não são o contrário de R$ 100.)
(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Guia de Uso do Português, Maria Helena de Moura Neves, ed. Unesp; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; revista Língua Portuguesa, ed. Segmento.)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pronomes relativos

Acho interessante escrever sobre algo que sempre utilizamos – pronomes relativos – quando o assunto é fazer referência a um termo anterior (o antecedente de um relativo pode ser um substantivo, um pronome, um adjetivo, um advérbio ou uma oração*). São eles: o qual, os quais, a qual, as quais; cujo, cujos, cuja, cujas; quanto, quantos; quantas; que, quem, onde. Com relação à função sintática dos pronomes relativos, eles podem ser sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, adjunto nominal, complemento nominal, adjunto adverbial e agente da passiva, tendo em vista que o relativo cujo sempre funciona como adjunto adnominal e o relativo onde, como adjunto adverbial.
Como percebo que há certa confusão no uso desses pronomes, vou focar este post em seus valores e empregos, com mais atenção ao que.

Que

É usado em orações adjetivas restritivas e explicativas. (As restritivas restringem, limitam, precisam a significação do substantivo ou pronome antecedente e se ligam a ele sem pausa, ou seja, sem vírgula. As explicativas acrescentam uma qualidade acessória ao antecedente, separando-se dele por vírgula.)


Não diz nada que se aproveite, esse rapaz! (restritiva)

O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacífico (explicativa)


Concordância:


- O antecedente imediato do que determina a concordância.

- Havendo dois ou mais antecedentes, o verbo vai para o plural da pessoa que tem precedência sobre as demais.

- O verbo fica na terceira pessoa se o sujeito é um infinitivo e não o que (Ex.: “As pessoas que é difícil encontrar”), porém os pronomes nós e vós podem prevalecer sobre o antecedente imediato do que (“Não somos nós os que vamos discordar”).


Qual, o qual

O pronome que pode ser substituído por o qual (a qual, os quais, as quais), com antecedente substantivo, em orações adjetivas explicativas:

Clareava: uma luz baça, em neblina, através da qual apareciam serranias distantes e o mar liso, esbranquiçado, luzindo a trechos.


Quem


Emprega-se somente com referência a pessoa ou a alguma coisa personificada.


A mim quem convertou foi o sofrimento.


Cujo



Cujo é relativo e possessivo. Emprega-se apenas como pronome adjetivo e concorda com a coisa possuída em gênero e número.

Herculano é para mim, nas letras, depois de Camões, a figura em cujo espírito e em cuja obra sinto com plenitude o gênio heroico de Portugal.


Quanto


Como simples relativo, quanto pode vir antecedido de tudo, todos (todas), podendo estes ser omitidos.


Em tudo quanto olhei fiquei em parte.


Entre quantos te rodeiam,
Tu não enxergas teus pais.


Onde


Desempenha o papel de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), e por isso é considerado por alguns gramáticos advérbio relativo.


Sob o mar sem borrasca, onde enfim se descansa.


* Os pronomes relativos quem e onde podem ser empregados sem antecedentes, passando a ser pronomes relativos indefinidos.
** Todos os exemplos foram retirados de Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

“Obrigado(a) eu” ou “obrigado(a) você”?

Quem nunca ouviu (ou falou) uma das formas acima e se perguntou “Afinal, qual está correta?” que atire a primeira pedra.
Mas antes de esclarecer a questão vou contar uma breve história.
Há algum tempo, Caetano Veloso e Jorge Mautner, na ocasião do lançamento de um disco em parceria, foram entrevistados no programa do Jô Soares. No fim da entrevista, quando o Jô agradeceu a presença deles no programa, Caetano respondeu tranquilamente: “Obrigados nós”.
Até explicação na sua coluna da Folha de S.Paulo Pasquale deu, de tanto e-mail de pessoas questionando a resposta.
Tal estranhamento vem do fato de a palavra obrigado ser um adjetivo e, por isso, concordar exatamente com a pessoa (ou pessoas) que agradece(m) ou que responde(m) ao agradecimento: obrigado (homem), obrigada (mulher), obrigados (homens), obrigadas (mulheres).
Quando alguém diz “obrigado(a)”, está querendo dizer que está agradecido(a) por algo feito, que se sente na obrigação de retribuir o favor feito.
Mas como responder a esse agradecimento?
Algumas pessoas usam, de forma inadequada, a maneira “obrigado(a) você”. Se formos interpretar essa resposta na ponta da caneta, vemos que, quem recebeu o agradecimento, simplesmente “obriga” o favor à pessoa que agradeceu. É como se ela dissesse para quem agradeceu “Você tem uma obrigação para comigo”, mas, como vimos, o “obrigado(a)” é exatamente isso: uma obrigação para com a pessoa que se agradece. Confuso? Acho que explicando a maneira correta minimizo a confusão.
Quando alguém diz “obrigado(a)”, a forma correta de responder, entre outras, é “obrigado(a) eu”, ou seja, eu que fico obrigado(a). Voltando à resposta de Caetano, vemos que ele agradece por ele e Mautner, por isso o “obrigados nós” (plural de “eu”). Se achou estranho, é possível optar pela forma “obrigado(a) a você”, ou seja, eu é que fico obrigado a você.
Se ainda assim der um branco na hora de responder, opte simplesmente pelas formas: “não há de quê”, “de nada”, “por nada” ou “eu que agradeço”; o importante é não deixar sem resposta um agradecimento.

Em tempo: quando substantivamos o obrigado, ele não varia – “meu muito obrigado”, para homem ou mulher, “nosso muito obrigado”, para homens ou mulheres.

(Fontes de pesquisa: sites Sua Língua e Gramática On-line, Folha de S.Paulo.)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Acerca de, a cerca de, cerca de, há cerca de

Muito usadas no dia a dia, em diversos tipos de textos – escritos e falados –, essas locuções homófonas (ou quase) têm sentidos diferentes e às vezes confundem na hora de escrever.


Acerca de

Esta locução é formada pelo advérbio acerca mais a preposição de e tem o sentido de a respeito de, quanto a ou sobre.
Exemplos: A palestra explicou tudo acerca do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Ele ainda não divulgou nada acerca do novo trabalho.
Divulgaram ontem as informações acerca das provas.


A cerca de e cerca de

Estas duas locuções, formadas pelo advérbio cerca e pela preposição de, têm o mesmo sentido: aproximadamente, quase, perto de ou nas proximidades de. A diferença entre as duas formas é que no primeiro caso é usada a preposição a antes do advérbio cerca, que algumas vezes é necessária, como veremos nos exemplos, sobretudo em função das regências verbal e nominal.
Exemplos: Os fãs fervorosos ficaram a cerca de 2 metros do palco.
Emagreceu cerca de 3 quilos.
Ela chegou cerca de 5 minutos depois do início do espetáculo.
Estava a cerca de 2 quilômetros do escritório.
As crianças estavam ansiosas cerca da mesa de doces.


Há cerca de

Neste caso temos o verbo haver mais o advérbio cerca e a preposição de e o significado de faz aproximadamente, faz mais ou menos.
Exemplos: Chegou há cerca de meia hora.
Deixei a cidade há cerca de dez anos.
O filme está em cartaz há cerca de dois meses.

***

Espero que com essas dicas a confusão não surja mais na hora da escrita.


(Fontes de pesquisa: Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O verbo haver como impessoal no sentido de existir

Geralmente em uma oração há dois termos principais, o sujeito e o predicado, sendo que este carrega o verbo que expressa a ação e aquele, a pessoa que comete essa ação. Mas há ocorrências de orações sem sujeito, que não apresentam nem mesmo sujeito oculto ou indeterminado. Nesses casos não é primordial atribuir a ação contida no predicado a alguém. O mais importante é o acontecimento em si.

Os verbos que regem essas orações são chamados verbos impessoais. O verbo haver, no sentido de existir (Há traças nas suas roupas) e nas indicações de tempo (Há dois meses não caminha sob o sol), está entre eles. Como os verbos impessoais não têm sujeito, apresentam variação apenas de tempo, e não de pessoa, e assumem sempre a forma de terceira pessoa do singular. Por isso, é um equívoco concordar verbos impessoais com os termos que os seguem. Vejamos:

Houve animais nesta casa e não Houveram animais nesta casa.

No exemplo dado, pode-se perceber que “animais nesta casa” é o complemento do verbo haver, e não o seu sujeito, já que não praticou ação alguma. Portanto, não há motivos para flexionar o verbo. É sempre bom lembrar que verbos impessoais não têm sujeito e por isso não apresentam flexão de pessoa (o que, como as palavras já dizem, os tornaria verbos pessoais).

Seguindo essa mesma lógica, verbos que unidos ao verbo haver tenham função de auxiliar também ficam no singular. Assim: Pode haver lutas e não Podem haver lutas.

Mas atenção, embora o verbo haver como impessoal possa ter o sentido de existir, se substituirmos um pelo outro na oração, deverá ser empregada a flexão de pessoa para o verbo existir, já que este não assume função de verbo impessoal. Assim: Existem traças na sua roupa. Nesse caso, “traças na sua roupa” assume a função de sujeito do verbo existir e há concordância entre eles.

Há ainda uma particularidade na relação entre os verbos haver e ter com o sentido de existir. Muitas vezes, vemos o uso do verbo ter em lugar de haver, como Tem duas meias no seu pé. De acordo com a gramática tradicional, esta forma é incorreta, pois o verbo ter carrega o significado de posse e não deveria assumir a função de existir, muito menos tornar-se impessoal. Mas, como essa substituição já está se tornando consagrada pelo uso, muitos escritores a empregam. Por isso, é importante lembrar que, no caso de admitir o uso de ter nesses termos, é preciso manter a mesma regra usada com o verbo haver. Assim: Tem duas meias no seu pé e não Têm duas meias no seu pé.

O verbo haver não é único a assumir a característica impessoal, tampouco essa é sua única forma, mas isto pode ser assunto para outra dica... Por enquanto, espero ter esclarecido a função de haver como existir.

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Lições de Português pela Análise Sintática, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário Prático de Regência Verbal, Celso Luft, ed. Ática; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

"Tratar-se de"

Tratam-se de problemas pessoais ou Trata-se de problemas pessoais?

Em orações em que o verbo "tratar" signifique: 1. estar em causa; ser o que importa ou o que se debate; versar (a questão de que se fala) sobre; 2. estar a falar de; ser; 3. ter importância para alguém ou algo; adiantar, interessar*, o sujeito é indeterminado. Logo, se não há sujeito para que haja concordância, o verbo fica na terceira pessoa do singular:

Trata-se de problemas pessoais.




* De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

“Se eu ver”, “se eu vir”, “se eu vim”, “se eu vier”?

Tendo em vista que não é o tamanho do post que mede sua utilidade, resolvi fazer uma breve exposição de algo que provoca certa confusão na hora de escrever: o uso dos verbos irregulares ver e vir, mais especificamente suas formas conjugadas no subjuntivo (ou seja, quando consideramos o fato algo incerto, duvidoso, eventual ou irreal).

Comecemos pela conjugação no presente do indicativo:
Ver
vejo
vês

vemos
vedes
veem*

Vir
venho
vens
vem
vimos
vindes
vêm**


Agora, vamos ao ponto em que realmente acontece a maioria das confusões:

Muitas pessoas se confundem com o futuro do subjuntivo do verbo ver e acabam dizendo “se eu ver”, sendo a forma correta “se eu vir”. Já me disseram: “'Se eu vir?' Nunca vi assim. É 'se eu ver'!”. Sim, a voz do povo é a voz que manda na nossa língua, mas a conjugação do verbo ver (ainda) não foi alterada. A forma “se eu ver” não existe. “Mas é 'se ele ver', não é?” Não. É “se ele vir”. O erro aqui ocorre pela troca do futuro do subjuntivo pelo infinitivo, notaram? Seria quase a mesma coisa que dizer “se eu fazer”ou “se eu querer” no lugar de “se eu fizer” e “se eu quiser”, respectivamente. E, na primeira pessoa do plural, como fica? “Se nós virmos”, e não “se nós vermos”. E na terceira? “Se eles virem”, e não “Se eles verem”.
Na conjugação do verbo vir, algumas pessoas também se confundem ao usar o futuro do subjuntivo: no lugar de “se eu vier” acabam dizendo “se eu vim”, ou seja, trocam o futuro do subjuntivo pelo pretérito perfeito do indicativo.

Abaixo, as três conjunções dos verbos ver e vir no modo subjuntivo:

Ver
Presente do subjuntivo
veja
vejas
veja
vejamos
vejais
vejam

Pretérito imperfeito do subjuntivo
visse
visses
visse
víssemos
vísseis
vissem

Futuro do subjuntivo
vir
vires
vir
virmos
virdes
virem

Vir
Presente do subjuntivo
venha
venhas
venha
venhamos
venhais
venham

Pretérito imperfeito do subjuntivo
viesse
viesses
viesse
viéssemos
viésseis
viessem

Futuro do subjuntivo
vier
vieres
vier
viermos
vierdes
vierem


Espero ter esclarecido algumas dúvidas em relação a isso!

(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0.7.)

* A terceira pessoal do plural no presente do indicativo do verbo ver não leva mais acento circunflexo (ver Acordo Ortográfico).
** A terceira pessoal do plural do verbo vir não mudou depois de assinado o acordo; continua com acento circunflexo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Grafias mudam com o acordo

Além das novas regras já conhecidas por todos, o acordo trouxe novas grafias a algumas palavras, anote-as:

antes infanto-juvenil => agora infantojuvenil
antes pronta entrega => agora pronta-entrega
antes socialdemocracia => agora social-democracia
antes ponto final => agora ponto-final

Grafia de horas

Esta é uma questão que ainda confunde muita gente. Afinal, como devemos escrever as horas?
Cada país tem sua maneira de registrá-las. No Brasil convencionou-se adotar o horário de 24 horas, ou seja, a madrugada vai da 0 às 6 horas; a manhã, das 6 ao meio-dia; a tarde, do meio-dia às 18; e a noite, das 18 às 24 horas. Alguns países utilizam o horário de 12 em 12 horas, ou seja, a madrugada vai da 0 às 6 horas; a manhã, das 6 às 12; a tarde, das 12 às 6; e a noite, das 6 às 12 horas.
Por convenção também, não são utilizados dois-pontos, e sim a abreviação da palavra hora, que é h, sem ponto final (nunca hs nem hrs). A abreviação de minutos é sempre min, sem ponto final, e a de segundos é s, também sem ponto, mas esta é usada apenas em marcações específicas, como o tempo de uma corrida, entre outras (11h23min9s).
Portanto abreviam-se as horas desta maneira: 12h*, 12h30min ou 14h22min, podendo ser dispensado o min final, ficando apenas 12h30 etc. As horas redondas também podem ser representadas por extenso ou então com espaço (sempre sem zero inicial): 12 horas ou 12 h; 6 horas ou 6 h.
A grafia com dois-pontos (08:00, 15:10, 20:08 etc.) é usada em áreas específicas, como em passagens, horários anunciados pela televisão, etc., portanto evite-a.

(*Na Trip usamos a forma por extenso em textos e a forma abreviada – sem espaço – em serviços.)

Quanto à crase, veja como usar:

=> de 13h a 14h (não colocar o acento)

=> das 13h às 14h (colocar o acento)

=> entre as 20 e as 24 horas (não colocar o acento)

=> desde as 2 horas (não colocar o acento)

=> até as/às 18 horas (facultativo)

Aproveitando a deixa, veja também como são grafadas as datas:

com traço: 28-12-1945
com barra: 3/10/2002*
com ponto: 21.5.2004

(*Esta é a forma que usamos na Trip.)

Observações:
=> nunca use ponto nem espaço entre o milhar e a centena nos números cardinais: 1986 (e não 1.986 nem 1 986); 2010 (e não 2.010 nem 2 010);

=> o ano pode ser registrado com os dois últimos dígitos: 12/11/02;

=> escreva o primeiro dia do mês desta forma: 1º (e não 1). Exemplo: 1º/5/02 ou 1º/05/02.

=> o emprego de zero antes do dia ou do mês formado de um só algarismo não é de rigor: 02/02/99 ou 2/2/99 (porém na Trip não utilizamos o zero).


Espero que com essas dicas ninguém mais perca a hora no momento da escrita.

(Fontes de pesquisa: sites Gramática on-line e Manual de Redação da PUC-RS on-line; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Todo(a) ou todo(a) o(a): quando o artigo faz toda a diferença

Estas vogais, a e o, geralmente fazem muita diferença quando assumem função sintática de artigo definido (feminino ou masculino, respectivamente). Nesta Dica, falaremos sobre o pronome indefinido todo(a), já que a presença do artigo, posposto a ele, pode mudar todo o significado de uma frase.

Se lermos em voz alta as frases: “Ele encapa com plástico todo livro que vai para a estante” e “Ela derrubou café e manchou todo o livro” perceberemos que, na fala, a presença do artigo pode passar despercebida. Isso ocorre porque a concordância entre artigo e pronome forma crase entre a última letra de todo, que o identifica como palavra masculina, e o artigo o, que com ele concorda. Por esse motivo, dizem os gramáticos, as pessoas costumam ficar indecisas entre o uso de todo(a) ou todo(a) o(a).

Mas, como na língua escrita não temos a entonação da fala, precisamos usar de outros recursos para tornar claro nosso discurso e, neste caso, o artigo pode ajudar. Vejamos mais um exemplo:
(a) Ela trocou as personagens e mudou toda a história.
(b) Toda história que ele conta é mentirosa.

Na frase (a) toda a história tem o sentido de “história inteira”, enquanto na frase (b) toda história tem sentido de “qualquer história”. É essa a diferença estabelecida com a presença do artigo definido, ou seja, todo(a) – sozinho – tem sentido de “cada/qualquer”e todo(a) o(a),de “inteiro/total”.

Mas atenção, quando no plural todos e todas devem vir acompanhados de artigo também no plural (Ela fez todas as obrigações do dia), a não ser que sejam seguidos de palavras que o excluam, como pronomes demonstrativos (Não preciso de todas essas regalias) e numerais não acompanhados de substantivo (Ele aceitou todos os quatro pedaços que lhe ofereceram e já comeu todos quatro).

A diferenciação entre todo(a) e todo(a) o(a) é corrente no português moderno e do Brasil, por isso muitos gramáticos aceitam a utilização do pronome todo(a), no singular, com ou sem artigo definido, abrangendo todos os sentidos citados acima. Mas, se podemos facilitar a compreensão do leitor de nosso discurso, por que não?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Infinitivo: flexionado ou não flexionado?

O infinitivo é uma forma nominal do verbo, ou seja, além do seu valor verbal pode desempenhar a função de nome. Mais precisamente, o infinitivo pode ser também substantivo. Muitos devem ter ouvido na escola que o infinitivo é o nome do verbo, lembram?
Como verbo, na língua portuguesa o infinitivo pode ser impessoal, que não tem sujeito, porque não se refere a uma pessoa gramatical, ou pessoal, que tem sujeito e pode ser flexionado ou não. A partir daí costuma haver polêmica. Sempre surgem dúvidas quanto à flexão do infinitivo e a questão é controversa mesmo entre os gramáticos. A dica desta semana tenta esclarecer.

O infinitivo é flexionado...

1- Quando o seu sujeito e o do verbo principal são diferentes.
Exemplos: O chefe julgava estarem seus empregados superados.
Convém saírem vocês primeiro.
Peço-lhes o favor de não chegarem atrasados.

Caso o sujeito seja o mesmo, o infinitivo não será flexionado. Reparem nos exemplos que o sujeito das duas ações é o mesmo.
Exemplos: Quiseram fazer as pazes.
Declararam estar prontos.
Temos o prazer de lhe comunicar a vitória.

2- Quando o sujeito é indeterminado.
Exemplos: Ouvi dizerem que você canta muito bem.
Eu não deixei levarem o cachorro.
Ele viu executarem os criminosos.

3- Quando o infinitivo é o sujeito.
Exemplos: O morrerem pela pátria é sina de alguns soldados.
O quereres tudo me surpreende.

Observação: se houver dúvidas ao usar as “regras” acima, considere que o infinitivo é flexionado quando pode ser substituído por um tempo finito, em geral do indicativo ou do subjuntivo.
Exemplos: É preciso saírem logo. (saírem = que saiam)
Convém chegarmos ao fundo da questão. (chegarmos = que cheguemos)
O coronel intimou-os a se renderem. (renderem = a que se rendessem)

***


O infinitivo não é flexionado...


1- Quando é impessoal (ou seja, não se refere a nenhum sujeito) ou é usado de forma impessoal.
Exemplos: É possível haver dúvidas.
Jurar falso é crime.
É proibido proibir.


2- Quando tem o valor de imperativo.
Exemplos: Meia-volta, volver!
Honrar pai e mãe.


3- Em locução verbal.
Exemplos: As crianças começaram a chorar.
Hoje vamos passar o dia na praia.
As peças estavam estragadas, devendo ser substituídas.
Costumavam os filhos reunir-se.


4- Quando com preposição que funciona como complemento de substantivo, adjetivo ou do próprio verbo principal.
Exemplos: O pai convenceu os filhos a voltar cedo.
Eram soluções difíceis de aplicar.
Receitas boas de fazer.
Continuamos dispostos a comprar a casa.
As emissoras conquistaram o direito de transmitir todos os jogos de vôlei.


5- Quando com preposição que aparece depois de um verbo na voz passiva.
Exemplos: Os jornalistas foram forçados a sair da sala.
As pessoas eram obrigadas a esperar em fila.

6- Quando com preposição que tem o valor de gerúndio.
Exemplos: As senhoras estavam a orar. (a orar = orando)
Os trabalhadores estavam a comer. (a comer = comendo)


Observação: nos demais casos de preposição ou locução prepositiva com infinitivo a flexão é opcional.

***


Pois é, realmente não são poucas as considerações sobre a flexão ou não do infinitivo. É sempre válido tentar primar pela clareza e usar do bom senso. Para concluir, deixo a observação do gramático Napoleão Mendes de Almeida: “Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo”.

(Fontes de pesquisa e de exemplos: Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Nova Fronteira; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Colocação pronominal

Nos meus meses de vestibulando, este foi o assunto que mais me assombrou. Onde colocar o pronome átono? Mas e se tem uma negação? Posso começar uma oração com o pronome átono?
Abaixo, uma explicação para aqueles que ainda ficam com um ponto de interrogação na mente quando o assunto é colocação pronominal.

***
Próclise: pronome antes do verbo
Mesóclise: pronome no meio do verbo
Ênclise: pronome depois do verbo

***

Regras gerais:
Com um só verbo

1. Verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito, usa-se apenas próclise ou mesóclise:

Eu me sentarei.
Eu me sentaria.
Eu sentar-me-ia.

2. Usa-se a próclise também:

- quando uma palavra de sentido negativo (não, nunca, jamais, nada, nenhum, nem, ninguém) precede o verbo, não havendo pausa :

Nunca o vi por estes lados.


- quando o verbo é precedido de advérbio (aqui, ali, cá, lá, muito, bem, mal, sempre, somente, depois, após, já, ainda, antes, agora, talvez, acaso, porventura) ou expressões adverbiais e não há pausa que os separe:

Sempre lhe digo, e nunca me ouve.


- quando o verbo é precedido de que (menos quando substantivo):

O que você nos disse faz sentido.


- quando o verbo é precedido de pronome relativo (o qual, quem, cujo, onde):

Quem me ligou?


- quando o sujeito da oração, anteposto ao verbo, contém o numeral ambos ou algum pronome indefinido (algum, alguém, diversos, muito, pouco, vários, tudo, outrem, algo):

Alguém me chama.
Ambos se dizem ganhadores.


- quando o verbo é precedido de pronome demonstrativo (este(a), esse(a), isto, isso, aquilo):

Aquilo lhe pertence.


- nas orações que exprimem exclamação ou desejo:

Raios os partam!
Que Deus o abençõe.


- quando o verbo é precedido de conjunção subordinativa (porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante, enquanto, quanto mais... mais):

Quando me disseram, já era tarde.


- quando o verbo é precedido das conjunções coordenativas não só... mas também, quer... quer, já... já, ou... ou, ora... ora.

Não só me disse isso, mas também me presenteou.


- com o gerúndio regido da preposição em ou de advérbio:

Em se tratando de escola, ela prefere a matemática.
Bem o dizendo, mal o negando.


- com formas verbais proparoxítonas:

Nós o teríamos deixado.


- nas orações iniciadas por pronomes interrogativos:

Quem te deu esse doce?


- nas orações iniciadas por objeto direto ou predicativo:

Isso te digo eu.


3. Não se dá ênclise nem próclise com os particípios.

4. Com infinitivo solto (que não faça parte de locução verbal), tanto faz usar ênclise ou próclise. (Porém, não combine por ou nem com os pronomes o, a, os, as.)


Com uma locução verbal

Quando na oração há verbo auxiliar + infinitivo, é necessário levar em consideração a atração, podendo o pronome ficar depois do auxiliar ou do infinitivo (quero-lhe dizer a verdade / quero dizer-lhe a verdade*), caso não haja atração, ou antes do auxiliar e depois do infinitivo, caso contrário (não quero lhe dizer a verdade / não quero dizer-lhe a verdade).


Quando na oração há verbo auxiliar + preposição e infinitivo, se não houver atração o pronome fica depois do infinitivo (deixou de a procurar / deixou de procurá-la), caso contrário, o pronome fica antes do auxiliar ou depois do infinitivo (não a deixou de procurar / não deixou de procurá-la).


Quando na oração há verbo auxiliar + gerúndio, se não houver atração, o pronome fica depois do auxiliar ou do gerúndio (vinha-lhe dizendo a verdade / vinha dizendo-lhe a verdade), caso contrário, o pronome fica antes do auxiliar (não lhe vinha dizendo a verdade).

Quando na oração há verbo auxiliar + particípio, se não houver atração, o pronome fica antes ou depois do auxiliar (os chefes haviam-no recomendado / os chefes o haviam recomendado), caso contrário, fica apenas antes do auxiliar (quis saber por que o haviam recomendado).

Obs.: Quando o verbo principal está no particípio, o pronome átono não pode vir depois dele.


Casos opcionais

Com os pronomes pessoais e com o infinitivo que não faça parte da locução verbal.


Mesóclise

Usa-se ao iniciar frases ou quando não existir nada que atraia o verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito.

Obs.: convém evitar essas formas, já que são mais ligadas à linguagem erudita.


(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)


* Alguns exemplos foram retirados do Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Porcentagem (concordância)

Sempre que ouvia na televisão repórteres concordando o verbo da porcentagem com o número que ela simbolizava e não com o termo que especificava o número (um exemplo aleatório: 30% da população sofrem com as enchentes) achava estranho e questionava se era correto esse modo de falar (ou escrever). Para mim, a concordância do verbo se fazia no singular, pois concordava com o termo referido (30% da população sofre com as enchentes).
Em outro momento, numa mesa de bar, conversando com um amigo que é jornalista, escutava ele afirmar categoricamente que aquele era o único modo de concordar a porcentagem, não havia outra forma. Como eu conhecia “a outra forma”, mas não queria começar uma discussão, resolvi me calar, mas fui atrás da “verdade” para saber qual dos dois estava certo, ou melhor, para provar que eu tinha razão.
Qual não foi minha surpresa quando, lendo vários livros de gramática, percebi uma das coisas mais comuns na língua portuguesa: os dois estavam corretos. Há as duas formas de concordar o verbo.

Então, vamos aos fatos:

=> quando o verbo vem após o número expresso pela porcentagem, é possível concordar o verbo com o número ou com o que é expresso por ele:

80% dos alunos foram aprovados. ou
80% das alunas foram aprovadas*.

50% da colheita foram perdidos. ou
50% da colheita foi perdida*.

* esta é a forma que utilizamos na Trip.

=> porém, todos os gramáticos são unânimes em concordar o verbo no plural quando:
– ele vem antes da porcentagem:

Perderam-se 20% da colheita.

– o termo a que refere a porcentagem vier antes dela:

Dos trabalhadores, 38% foram demitidos.
Da safra de café, 40% estavam estragados.

– a porcentagem for particularizada:

Esses 15% da comissão serão entregues aos funcionários.
Os restantes 40% serão divididos em três vezes.

=> com 1% o verbo fica expresso no singular:

Apenas 1% dos eleitores não compareceu às urnas.
1% dos entrevistados a revista.
Dos livros emprestados, somente 1% foi devolvido.
Está perdido 1% da safra.

Depois de aprender sobre a porcentagem e descobrir essa particularidade da língua portuguesa de aceitar várias regras em uma mesma situação, parei de incluir o assunto em uma discussão, pois há uma grande chance de todos estarem corretos... ou não.

(Fontes de pesquisa: Gramática Escolar da Língua Portuguesa, Evanildo Bechara, ed. Lucerna; Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Domingos P. Cegalla, ed. Nova Fronteira; Manual da Redação da Folha de S.Paulo, Publifolha; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Napoleão Mendes de Almeida, ed. Saraiva; Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, José Carlos de Azeredo, Publifolha)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O uso da crase

Não. A crase não “caiu” com o acordo ortográfico, embora isso tenha sido muito falado por aí. Muita gente tem dúvidas quanto ao seu uso e existem vários truques para decorá-lo. Mas, se entendermos por que ela ocorre, tudo pode ficar muito mais simples.

A palavra crase vem do grego crasis e significa “mistura”, “fusão”, “contração”. Na língua portuguesa a crase é indicada por acento grave basicamente quando há duplicação da vogal a. Melhor dizendo, na contração: 1) da preposição a com o artigo definido a(s); 2) da preposição a com a inicial dos pronomes demonstrativos aquela(s), aquele(s), aquilo.

Por isso, para saber se há crase, é preciso constatar se os elementos da frase pedem preposição e também o artigo definido feminino “a(s)”, ou, então, se há necessidade de preposição antes dos pronomes citados acima.

Uma dica para constatar a necessidade de preposição, caso fique difícil verificar a regência verbal, é substituir o a por outras preposições, como para, de, em, por. Já o artigo definido feminino a, como o nome indica, ocorre apenas diante de palavras femininas. É por isso que a crase ocorre diante de palavras femininas e não ocorre diante de palavras masculinas, pois estas últimas pedem o artigo definido masculino “o”, que quando unido à preposição “a” forma “ao”.

Daí vem a regra prática: para saber se há crase substitua a palavra feminina por uma masculina. Se for preciso colocar “ao”, também será necessário colocar “à”. Vamos lá:

Você foi a/à exposição? Podemos pensar que “quem vai, vai a/para algum lugar” e por isso precisamos da preposição a. Também percebemos que o substantivo feminino “exposição” pede o artigo definido a, o que nos leva à crase. Então: Você foi à exposição? Para comprovar, podemos usar a regra prática e substituir a palavra exposição por uma masculina: Você foi ao museu?


Também é preciso ficarmos atentos à concordância. Ou seja, se a palavra feminina estiver no plural, o artigo definido que a acompanha também deverá estar. Assim, usamos Você foi às exposições? Ou Você foi a exposições? No primeiro caso, a crase existe, é uma contração da preposição a com o artigo as, e temos a sensação de que as exposições são conhecidas dos interlocutores. No segundo caso, não há crase, pois usamos apenas a preposição a, e temos a impressão de que os interlocutores mencionam exposições de um modo geral, sem determiná-las (ou defini-las).

E diante de verbos no infinitivo? Se prestarmos atenção, veremos que não ocorre na língua portuguesa artigo definido feminino (nem masculino) antes de verbos no infinitivo. É por isso que não há crase nestes casos. Quando houver vogal a, ela terá função sintática apenas de preposição, sem estar acompanhada de artigo. Vejamos: (A) A partir de hoje não comprarei mais seus brinquedos. (B) Ele voltou a frequentar inferninhos.


Pelo mesmo motivo, não há crase diante de pronomes pessoais (Dei todo o meu dinheiro a ela.), dos pronomes demonstrativos esse(a)/este(a) (Você voltou a esta espelunca?), de pronomes indefinidos (Solicitei o documento a uma advogada.), de formas de tratamento que não sejam senhor e senhora (Entrego a Vossa Excelência minha lealdade.), dos pronomes relativos que e quem (Eram essas as poltronas a que me referia, entregue-as a quem quiser.), de nomes de lugar não precedidos de artigo (Iremos amanhã a Terezina. – Neste caso, temos: Estamos em Terezina. Apenas com a preposição, sem artigo.), da palavra casa no sentido de próprio lar (Voltou logo a casa.), da palavra terra no sentido de solo (O nadador quase chegara a terra.), nas locuções formadas por palavras repetidas (Ficamos frente a frente apenas uma vez.), nas expressões cristalizadas formadas pelo adjetivo meia (Estavam a meia luz quando cheguei.), entre outros.

as expressões que indicam horas, como às 9h, e as locuções adverbias, prepositivas e conjuntivas constituídas por substantivos femininos levam crase, como à vista, à frente, à deriva, às claras, à queima-roupa, à medida que, às vezes, entre outras.

Devemos, porém, ficar atentos a casos como o de Filé à camões. Temos a impressão de um caso de crase diante de palavras masculinas e ainda sem respeitar a concordância nominal. É porque aqui a palavra moda da expressão à moda está subentendida, e é como se disséssemos: Filé à moda de Camões.

Em algumas ocorrências o uso da crase é facultativo, como diante de pronomes possessivos (Ele veio ontem à/a minha loja.) e da preposição até (Caminhamos até à/a festa, depois ficamos conversando até as/às 3h.).


Vimos aqui alguns casos do uso da crase, com o intuito principal de demonstrar o porquê de sua formação, e não de elucidar caso a caso. Se houver alguma dúvida, poste um comentário!


(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna; Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, José Carlos de Azeredo, ed. Publifolha; Manual da Redação da Folha de São Paulo, ed. Publifolha; Manual de Redação e Estilo do Globo, Luiz Garcia (org.), ed. Globo.)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O uso do senão e do se não


Acho que não há quem nunca tenha titubeado: junto ou separado? A dica desta semana esclarece.


Senão


Esta palavra pode ser um substantivo, uma preposição ou uma conjunção. Facilitemos.

Como substantivo tem o sentido de defeito, falha ou obstáculo.
Exemplos: A sala tem apenas um senão: é muito quente no verão.
Há muitos senões nesta história.


Como preposição o sentido é de exceção (“com exceção de”, “exceto”, “salvo”) ou de restrição.
Exemplos: Todos, senão Maria, gostaram do filme.
Não conseguia fazer outra coisa senão estudar para o exame.
A vida não é senão uma grande aventura.


Como conjunção pode ter os seguintes sentidos:
1. de outro modo, do contrário, de outra forma. Neste caso trata-se de uma conjunção alternativa.
Exemplos: Não coma tanto chocolate, senão vai passar mal.
Vistam-se logo, senão chegaremos atrasados.
Precisamos estudar, senão seremos reprovados.


2. mas, mas sim, mas também, porém. Neste caso é uma conjunção adversativa.
Exemplos: Não comprou os livros de que gosta, senão os que precisa.
A responsabilidade não era da criança, senão dos pais.
Não falei para prejudicá-lo, senão para agradá-lo.

Se não


Neste caso trata-se da conjunção se com o advérbio não (são duas palavras, portanto, sempre separadas). Se não pode ter o sentido de “caso não” ou de “quando não”.
Exemplos: Se não for viajar, irei a sua festa.
Não lhe indicaria tais filmes se não gostasse deles.
Sempre vai ao cinema acompanhada pelos amigos, se não pelo namorado.
Gostava de chegar na hora marcada, se não adiantado.


Há ainda o caso em que o se é conjunção integrante e introduz uma oração que tem a função de objeto direto. Neste caso expressa dúvida, incerteza.

Exemplos: Querem saber se não vai demorar muito.
Perguntava se não era melhor esperar.
Eles questionaram se não havia outra saída.


Bom, ficam aí as dicas. Se houver dúvidas ou se quiserem comentar algo, manifestem-se, por favor. :)

(Fontes de pesquisa: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa; Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O uso dos pronomes demonstrativos

Escolhi escrever sobre esses pronomes porque, nestes três anos e meio que venho trabalhando como revisora, percebo que seu uso é bastante questionado.

* * *

1ª pessoa: este esta estes estas isto
2ª pessoa: esse essa esses essas isso
3ª pessoa: aquele aquela aqueles aquelas aquilo


Os pronomes demonstrativos possuem duas funções:

função díctica: situar pessoas e objetos no espaço ou no tempo em relação às pessoas do discurso;
função anafórica: lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que foi mencionado ou o que se vai mencionar.

1. Posição no espaço

Este, esta, isto indicam que a pessoa ou o objeto está próxima do emissor (1ª pessoa):

Este cachorro é meu.


Esse, essa, isso indicam que a pessoa ou o objeto está distante do emissor (1ª pessoa) e perto da pessoa a quem se fala (2ª pessoa):

– Que susto você me pregou, entrando aqui com essa cara de alma do outro mundo!
(C. dos Anjos, DR, 32.)


Aquele, aquela, aquilo: indicam que a pessoa ou o objeto está longe do emissor (1ª pessoa) e da pessoa com quem se fala (2ª pessoa):

– Olhem aquele monte ali em frente. É longe, não é?
(G. Ramos, AOH, 107.)



2. Posição no tempo

Este, esta, isto indicam o tempo presente em relação ao emissor (1ª pessoa):

Esta tarde para mim tem uma doçura nova.
(Ribeiro Couto, PR, 83.)


Esse, essa, isso indicam o tempo passado ou futuro com relação à época em que se coloca o emissor (1ª pessoa):

Bons tempos, Manuel, esses que já lá vão!
(A. Nobre, S, 51.)


Aquele, aquela, aquilo indicam afastamento no tempo de modo vago ou época remota:

Naquele tempo a fogueira crepitava até horas mortas.
(C. dos Anjos, DR, 46.)



3. Posição no texto

Este, esta, isto são utilizados para chamar a atenção sobre aquilo que o emissor (1ª pessoa) vai dizer:

Os problemas são estes: falta de comunicação e negligência.


Esse, essa, isso são utilizados para aludirmos ao que foi antes mencionado pelo emissor* (1ª pessoa) ou pelo interlocutor (2ª pessoa):

– Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
– Já tenho feito isso.
(Machado de Assis, OC, II, 586.)


Para distinguir dois termos anteriormente citados, usam-se este/esta para se referir ao que foi mencionado por último e aquele/aquela, ao que foi mencionado em primeiro lugar:

– A ternura não embarga a discrição nem esta diminui aquela.
(Machado de Assis, OC, I, 1124.)



Obs.: os pronomes demonstrativos podem se combinar com as preposições de e em, e aquele, aquela e aquilo podem se contrair com a preposição a, assumindo formas como àquele, àquela e àquilo.

* * *

Bom, é isso! Qualquer dúvida, é só usar a seção Comentários.


(Fontes de pesquisa: Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra**, ed. Lexikon; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna.)



* Alguns autores também dão como correto utilizar, neste caso (quando é mencionado pelo emissor), este, esta, isto.
** Os exemplos literários foram todos tirados dessa obra.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quando usar por que, porque, por quê e porquê?


O Guga adora me provocar com essa questão, por isso achei que seria uma boa ideia abrirmos nossas dicas semanais com esta que é uma dúvida que muitos carregam. Nos idos da escola primária, que hoje nem mais esse nome tem, aprendemos (pelo menos comigo foi assim) que por que separado é pergunta e porque junto é resposta – nem sei dizer em que parte da vida deixei a explicação sobre o acento nessa conjunção, nem sei se me explicaram...
Mas, não desmerecendo nossos mestres, que também já não têm esse nome, deixo esse registro escrito. Vejamos:

=> Por que ele não foi ao espetáculo? (pergunta – frase interrogativa) (1)
=> Porque ficou doente. (resposta – frase afirmativa) (2)

Mas e estes casos? Como ficam?

=>Você não foi ao espetáculo ____________ estava doente? (3)
=> Me conte __________ você não foi ao espetáculo. (4)

Acertou quem colocou porque na (3) e por que na (4).
Vamos entender:
Usa-se porque no caso (3), apesar de frase interrogativa, pois ela explica, tenta entender, a causa da falta e não simplesmente a questiona.

=> Você não foi ao espetáculo porque estava doente?

Usa-se por que no caso (4), pois estão subentendidas as palavras razão e motivo (elas poderiam também estar expressas).

=> Me conte por que (motivo/razão) você não foi ao espetáculo.

Há ainda um terceiro uso de por que: quando o que for pronome relativo e a expressão equivale a para que, pelo(a) qual, pelos(as) quais. Vejamos:

=> O rádio foi o meio por que ele se comunicou. (5)

Agora vamos aumentar nossa lista e incluir o acento nessa conjunção.
Usa-se por quê quando em perguntas diretas, como a (1), e indiretas, como a (4), encerra a frase. Vejamos:

=> Você não foi ao espetáculo? Por quê? (6)
=> Não gostou do livro, mas não sabe explicar por quê. (7)

Usa-se porquê quando a conjunção se torna um substantivo e pode ser substituída (e não expressa ou subentendida, como na frase (4)) pelas palavras motivo, causa, razão, indagação. Vejamos:

=> Não sei o porquê de você ter ficado brava.

Espero que essas “regrinhas” tenham ajudado a resolver parte dos problemas relacionados a essa conjunção. Se ficou alguma dúvida, ou se houver outras, entre em contato com a gente e sua questão pode ser a próxima Dica da Semana.

(Fontes de pesquisa: A Vírgula, Celso Pedro Luft, ed. Ática; Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Domingos P. Cegalla, ed. Nova Fronteira; Manual da Redação da Folha de S.Paulo,
Publifolha; Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, ed. Moderna)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

No ar!

Olá! Estamos no ar!

Agora a Trip Editora tem um espaço para que os colaboradores possam tirar dúvidas sobre a língua portuguesa e os padrões das revistas por ela editadas.

À direita, na seção Links, você pode acompanhar nossas primeiras postagens, que sempre estarão aí para dúvidas gerais em relação a padronizações das revistas da Trip Editora e ao acordo ortográfico que entrou em vigor em janeiro de 2009.


E fiquem atentos, pois semanalmente postaremos curiosidades e dicas sobre a nossa língua!

Acordo ortográfico

O acordo ortográfico
O acordo ortográfico da língua portuguesa foi estabelecido entre os países em que esse idioma é considerado oficial, ou seja, Portugal e as nações que foram suas colônias – Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste e Brasil. A intenção é uniformizar a ortografia entre esses países, visando principalmente à elaboração de documentos diplomáticos, até agora redigidos apenas em inglês e espanhol, que passariam a apresentar também uma versão em português. Há ainda outros motivos, como promover a maior facilidade no intercâmbio cultural realizado por meio de livros, didáticos ou não. Mesmo com esses argumentos, o acordo foi criticado no Brasil – apesar de as mudanças por aqui serem poucas – e ainda não foi aceito em Portugal, onde há maior número de alterações. De qualquer forma, a abrangência desse acordo ortográfico da língua portuguesa não ultrapassa a língua escrita, ou seja, não há alteração na fala, na pronúncia das palavras.
Vejamos então como ficou nossa nova ortografia, em vigor desde janeiro de 2009.

ALFABETO
O alfabeto, antes com 23 letras, passa a ter 26. Foram incluídas: K, W e Y.

ACENTUAÇÃO
Trema
Não se usa mais o trema.
Exemplos: frequência, equino, linguiça, tranquilo, cinquenta, frequente, linguística, arguir, consequência.
Atenção: nomes próprios estrangeiros e seus derivados permanecem com o trema.
Exemplos: Müller, mülleriano; Hübner, hübneriano.

Ditongos abertos
Os ditongos abertos –ei e –oi em palavras paroxítonas não levam mais o acento agudo.
Exemplos: plateia, apoia (verbo apoiar), jiboia, assembleia, heroico, espermatozoide, androide, colmeia, estreia.
Atenção:
– A palavra destróier permanece acentuada, respeitando a regra na qual palavras paroxítonas terminadas em er levam acento.
– O acento permanece nas palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.
Exemplos: anéis, herói, papéis, corrói. Por isso, heroico se escreve sem acento, mas herói, com.

Hiatos
O acento circunflexo foi abolido nos hiatos -oo e -ee.
Exemplos: abençoo; voo; perdoo; enjoo; magoo; zoo; creem e descreem; deem; leem e releem; veem e preveem.
Atenção: o acento circunflexo que marca o plural nos verbos ter, vir e derivados permanece.
– tem / têm
– vem / vêm
– retém / retêm
– intervém / intervêm

Acento diferencial
Não há mais acento diferencial nos seguintes casos:
para, verbo, para diferenciar da preposição para;
Exemplo: João não para de trabalhar para juntar dinheiro.
pela/pelas (é), substantivo e flexão de pelar, para diferenciar de pela/pelas, combinação de per e la/las;
pelo(é), flexão de pelar, para diferenciar de pelo/pelos, combinação de per e lo/los;
pelo/pelos (ê), substantivo, para diferenciar da combinação per e lo/los;
Exemplo: O pelo do cachorro caía pelo chão.
polo/polos (ó), substantivo, para diferenciar de polo/polos, combinação antiga de por e lo/los.
pera(ê), substantivo, para diferenciar de pera(é), preposição arcaica.
Atenção: alguns acentos diferenciais permanecem:
pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), usado para diferenciar de pode (3ª pessoa do singular do presente do indicativo);
Exemplos: Há dois anos ele pôde satisfazer suas vontades, mas agora não pode pagar seus estudos.
pôr, verbo, usado para diferenciar de por, preposição;
Exemplos: Ela gosta de pôr o véu para rezar por você.
É facultativo o emprego do acento em:
dêmos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo), para diferenciar de demos (1ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo);
fôrma, substantivo, para diferenciar de forma, substantivo ou 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo;

-U tônico
Não há mais acento agudo no –u tônico das formas verbais rizotônicas quando precedido de g ou q e seguido de e ou i (grupos gue / gui e que / qui).
Exemplos: averigue, argui, redarguem.

-I e -u tônicos
Não há mais acento agudo no –i e –u tônicos nas palavras paroxítonas quando precedidos por ditongo.
Exemplos: feiura, baiuca, cauila, bocaiuva.
Atenção: quando pertencerem a palavras oxítonas, forem precedidos de ditongo e estiverem em posição final, seguidos ou não de s, o -I e -U tônicos ainda levam acento.
Exemplos: Piauí, tuiuiú, tuiuiús.

EMPREGO DO HÍFEN
Não há hífen:
 Nos casos de prefixos terminados em vogal seguidos de consoante.
Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autoproteção, coprodução, geopolítica, extracurricular, microcomputador, pseudoprofessor, semideus, ultramoderno, radiodetector.
Atenção:
– Nos casos de prefixos terminados em vogal seguidos de r ou s, dobra-se o r ou o s.
Exemplos: antirreligioso, antissocial, contrarregra, cosseno, minissaia, ultrassecreto, microssistema, radiorreportagem.
– O prefixo vice- é uma exceção, com ele há sempre hífen.

 Quando o prefixo termina em vogal diferente da palavra que o segue.
Exemplos: antiaéreo, plurianual, extraescolar, agroindustrial, autoestrada, anteontem, autoescola, socioeconômico, autoaprendizagem, semianalfabeto, semiaberto, semiopaco, aeroespacial, radioecologia.

 Nas palavras que perderam a noção de composição para o falante de hoje.
Exemplos: mandachuva, paraquedas, pontapé, girassol.

 Com os prefixos pro-, pre- e re-, que continuam como antes do acordo.
Exemplos: proeminente, preestabelecer, preexistente, reanexar, reeditar, reescrever, reidratar, reumanizar.

 Com o prefixo co-, que se aglutina com o segundo elemento mesmo que este se inicie pela vogal o ou pela consoante h, que, neste caso, é suprimida na aglutinação.
Exemplos: coautor, coobrigação, corresponsável, coabitação, coerdar, coerdeiro, coordenar, coocupante.

 Na palavra benfeito, que perdeu o hífen e teve a letra m substiuída por n, por causa da aglutinação.
Atenção: A palavra bem-vindo continua com hífen!

 Nas locuções prepositivas.
Exemplos: dia a dia, pé de cana, mão de obra, passo a passo.
Atenção:
- As locuções prepositivas que designam elementos da natureza, ou nomes botânicos, permanecem com hífen. Exemplos: cana-de-açúcar, pé-de-boi (árvore), siri-do-mangue.
- Cor-de-rosa continua com hífen.

Há hífen:
 Nos casos em que o prefixo sub- e os prefixos terminados em rhiper-, inter- e super- – são seguidos de palavras iniciadas por r.
Exemplos: sub-rogado, hiper-rugoso, inter-relatividade, super-realismo.

 Quando os prefixos terminados em vogal, como ante-, anti-, auto-, contra-, arqui-, extra-, intra-, neo-, ultra-, proto-, pseudo-, semi-, supra- etc., forem seguidos de vogal igual no segundo elemento.
Exemplos: micro-ondas, anti-inflamatório, auto-observação, semi-interno, contra-atacar, arqui-inimigo, ante-estreia, extra-atmosférico, intra-atômico, neo-ortodoxo, ultra-americanismo, supra-axiliar, pseudo-osteose.
Atenção: nas palavras com prefixos co- e re- seguidas de vogal igual no segundo elemento não há hífen.

 Com prefixos, quando o segundo elemento for iniciado por h.
Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, ultra-humano, macro-história, mini-hotel, sobre-humano, super-homem, proto-hominídeo, pseudo-hérnia.
Atenção:
- Na palavra subumano não há hífen, a palavra humano perde o h e se une ao prefixo sub-.
- Nas palavras com prefixos co- e re- seguidas de h não há hífen e essa consoante é suprimida na aglutinação.

 Nos prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começar por vogal, h, m ou n.
Exemplos: circum-navegador, circum-ambiente, pan-americano, pan-mítico, pan-hispânico.

 Com os prefixos ex-, sem-, além-, aquém-, recém-, vice-, pré-, pró- e pós- seguidos de qualquer palavra.
Exemplos: ex-librismo, sem-teto, além-mundo, aquém-oceano, recém-tecido, vice-reitor, pós-adolescência, pós-glacial, pré-agonia, pró-socialista, pró-análise.

 Nos adjetivos pátrios compostos.
Exemplos: afro-cubano, franco-ítalo-nipônico, brasilo-boliviano, sírio-libanês.

 Antecedendo os sufixos de origem tupi-guarani.
Exemplos: amoré-guaçu, capim-açu, anajá-mirim.

 O hífen é usado no lugar de traço na ligação de duas ou mais palavras que se combinam por uma eventualidade e formam encadeamentos vocabulares.
Exemplos: Liberdade-Igualdade-Fraternidade, ponte Rio-Niterói, percurso Rio-São Paulo, relação Angola-Brasil.

 Na translineação de uma palavra composta ou na combinação de palavras em que há um hífen, repete-se o hífen na linha seguinte.
Exemplos: ......elegeu-
-se
............pan-
-europeu
Atenção: a Trip Editora, assim como outras editoras, não segue essa regra.

EMPREGO DO E / I
 O e é substituído pelo i, antes da sílaba tônica, nos adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação.
Exemplos: acriano (do Acre), açoriano (dos Açores), rosiano (relativo a Guimarães Rosa)
camoniano (relativo a Camões).


Observação: as regras da nova ortografia da língua portuguesa em vigor no Brasil foram baseadas no acordo ortográfico, mas também passaram pela avaliação da Academia Brasileira de Letras. Por isso, além do que listamos aqui, há algumas especificidades que não caberiam neste texto. Para uma consulta mais detalhada, sugerimos o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o Volp, elaborado pela própria academia.

Padrões válidos para todas as revistas da Trip Editora

Uso de aspas, colchetes e parênteses

Aspas

Abrangem somente parte do período: fora (ex.: (...) e falamos: “Temos um programa”. ou (...) e perguntamos: “Temos um programa?”.).

Abrangem todo o período: dentro (ex.: “Temos um programa.” ou “Temos um programa?”).
O trecho transcrito abrange mais de um parágrafo: aspas só no começo e no fim do trecho transcrito.

Quando for interrompido pelo autor do texto: dentro (ex.: “Temos um programa”, disse ela, “que não tem audiência.”).

Aspas simples: usar apenas dentro de aspas (ex.: “Não adianta chegar e falar: 'Temos um programa'. É preciso ter audiência.”).

Em trechos depois de dois pontos o ponto final fica fora das aspas. Ex.: Disse ela: “Temos um programa que não tem audiência”.

Colchetes
São usados para intercalar observações em textos alheios apenas. Os colchetes e o conteúdo ficam em itálico*.

Parênteses
Usam-se para intercalar uma palavra, expressão ou oração acessória em um texto, representando, geralmente, uma explicação, um comentário, uma reflexão ou uma observação; para isolar uma palavra ou expressão que se queira destacar; e para levar referências ao leitor.

Uso do etc.
Não se usa vírgula antes do etc. e sempre se usa com ponto final.

Abreviaturas
Expressões de tratamento e reverência: por extenso.

Unidades de medida: por extenso**.

Horas e moedas: sempre h, R$ e US$. As demais moedas ficam por extenso.

Endereços: sempre abreviado em serviços (ex.: r., av., pça. etc.). No meio do texto fica por extenso.

Siglas
Formadas por até três letras: tudo em caixa-alta.

Formadas por quatro ou mais letras, quando pronunciáveis, só a primeira em caixa-alta. Quando não pronunciáveis, tudo em caixa-alta. Ex.: Unesp; IPTU.

Quando se coloca o significado da sigla entre parênteses: decisão da Redação.

Uso do ponto de separação entre as letras: não se usa.

Destaques (aspas, itálico e negrito)
Árias de ópera, nome de episódio de série de televisão ou desenho, canções, capítulos, quadros de programas de TV e rádio, tema da conferência, contos, seminários, teses e dissertações, exposições, poemas, série de fotos ou de quadros: entre aspas e caixa-alta, exceto em advérbios, conjunções e preposições**(exs.: “O Segundo Sol”, “Retrato Falado”, quadro do programa Fantástico) (título em português, em outros idiomas deixar as caixas sempre como vier).

Título de matéria: entre aspas e caixa-alta e baixa (ex.: “Meu escritório é na raia”).

Balé, livros, obras de artes plásticas, óperas, peças teatrais, periódicos, programas de TV, telas/quadros, CDs, LPs, DVDs, esculturas, espetáculos e shows, filmes (de longa, média e curta-metragem), fotografia: itálico e caixa-alta, exceto em advérbios, conjunções e preposições* (exs.: O Lago dos Cisnes, Fome de Tudo) (título em português, em outros idiomas deixar as caixas sempre como vier).

cadernos especiais e seções da revista, campeonato, conferência, festival, grafite normal e caixa-alta, exceto em advérbios, conjunções e preposições (exs.: Ilustrada, Páginas Vermelhas, Páginas Negras, Campeonato Brasileiro de Surf) (título em português, em outros idiomas deixar as caixas sempre como vier).

Palavras e expressões em língua estrangeira: não ficam em itálico, exceto nomes científicos. Ex.: o mainstream; o bas-fond; o Aedes aegypti; a Syagrus inajai.

Caixa-alta e caixa-baixa
CA / Cb / Cab

=> serra, baía, praia, floresta, vale, mata, chapada, morro, baixada, pico, oceano, lago, rio, recôncavo: sempre em Cb.

Ex.: região dos Lagos (nome) / baixada santista (adjetivo).


=> universidade, associação, fundação, centro, faculdade, rede, rádio, museu, escola, colégio: sempre em CA.

Ex.: Fundação Padre Anchieta, Museu da Aeronáutica.

Exceção: quando não fizer parte do nome, em Cb.

Ex.: colégio Móbile, mas Escola da Vila.


=> hospital, cinema, pousada, hotel, banco, teatro, bar, parque, shopping, igreja, basílica, cemitério, catedral: Cb.

Ex.: hospital Oswaldo Cruz, teatro Sérgio Cardoso.

Exceção: ficam em CA: Hospital das Clínicas, Teatro Municipal, Banco do Brasil, Catedral Metropolitana.


=> pontos turísticos (cartão-postal): Torre Eiffel, Torre de Pisa, Estátua da Liberdade, Arcos da Lapa, Pão de Açúcar, Cidade Maravilhosa, Cidade Luz.

=> União, Estado:
- governo federal, estadual, municipal em Cb.
- Palácio do Governo.
- Estado: em CA só como União.
- exército, marinha, aeronáutica: em Cb.
- legislativo, executivo, judiciário: em Cb.
- Ministério da Educação, mas ministro da Educação.
- monarquia, república e presidência em Cb; Câmara e Senado em CA.
- Justiça: em CA quando jurisdição.

=> logradouros em Cb: avenida, rua, praça, largo, parque, boulevard, travessa, viela, vila, bairro etc.


=> movimentos artísticos, escolas literárias etc.: bossa nova, modernismo, tropicália, cubismo, concretismo, manguebit, gótico.


=> signos: a 1ª em CA.


=> planetas e satélites: a 1ª em CA, mas “em geral” sol, lua, terra em Cb.


=> movimentos históricos em Cab.

Ex.: Revolução Praieira, Guerra dos Canudos, Guerra do Vietnã, Revolta da Vacina.

Exceção: evento não acabado: guerra do Iraque.


=> queda de...


=> Maio de 68.


=> ditadura militar.


=> Santo, São em Cab, mas padre, papa, bispo, dom.


=> doutor, senhor, senhora, dona, dom em Cb.


=> disciplinas e cargos em geral: em Cb.


Antropônimos
Flexão de nomes de família, carro ou moto: nunca flexionar (exs.: os Azevedo, os Andrade, as Harley, os Audi).

Grafia histórica (líderes religiosos não contemporâneos, monarcas, papas, santos, personagens bíblicos): atualizar grafia em português.

Grafia usada para personalidades brasileiras e portuguesas contemporâneas ainda vivas: manter grafia de acordo com a escolha do jornalista, mas verificar a padronização se aparecer mais de uma vez.

Nomes estrangeiros que têm correspondente em português: manter grafia de acordo com a escolha do jornalista, mas verificar a padronização se aparecer mais de uma vez.

Partículas que integram sobrenomes estrangeiros quando figura apenas o sobrenome: CA.

Partículas que integram sobrenomes estrangeiros quando o nome da pessoa vier completo: Cb.

Personagens da história antiga e da mitologia greco-romana: atualizar grafia em português.

Personagens de ficção literária em geral: manter grafia de acordo com a escolha do jornalista, mas verificar a padronização se aparecer mais de uma vez.

Personagens históricas e figuras da história ocidental atualizar grafia em português.

Topônimos
Grafia dos topônimos: manter grafia de acordo com a escolha do jornalista, mas verificar a padronização se aparecer mais de uma vez.

Quando aportuguesar o nome de países: se possível, sempre (seguir o Manual de Estilo da Folha).



*Ver exceções da revista Trip e do Núcleo 2.

**Ver exceções da revista Trip.




Glossário
(o) pickup
(o/a) piloto
3-D
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cashmere
catálogo raisonée
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champagne (Dufry World)
champanhe
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cheesy
chef
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chic
chiffon
chope
cigarrete
clipe
closet
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cockpit
cocktail dress
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corselet
corset
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cotelê
couro tacheado
crafty
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crepe
croco
cupcake
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discman
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retrô
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stress
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stylus (caneta)
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supersize
Supplex
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teatro-monumento
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tiara-elástico
tie-dye
tomara que caia
Touch Shot
touchscreen
tow-in
toy art
trading company
trailer-consultório
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triathlon
tricô
tricô aran
tricoline
T-shirt
tweed
twin set
vale-curso
vestido ânfora
VIP
viva voz
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voil
VoIP
wakeboard
WAP 2.0
web page
whisky
widescreen
widgets
wi-fi
Wimax
windsurfista
wireless
workaholic
workshop
xampu
xantungue
yakisoba
yatch (tênis sem cadarço)
yuppie
zibeline

Observações:
CHAVE leva hífen quando aparece à direita do substantivo
CONCEITO deixar com hífen loja-conceito, como carro-conceito
FANTASMA sem hífen, como no Manual do Estado: cidade fantasma, trem fantasma, funcionários fantasmas
PILOTO deixar sem hífen, como no Manual do Estado: usina piloto, planos piloto
RELÂMPAGO usar sem hífen como no Manual do Estado: guerra
relâmpago, comícios relâmpagos (porém, ver acepção "comício-relâmpago"
no Houaiss)
SÍMBOLO colocar hífen como no Manual do Estado
SURPRESA não leva hífen como no Houaiss